Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luis de Camões)
É apenas o começo. Só depois dói, e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode acontecer da maneira mais simples: umas gotas de chuva no cabelo,
Aproximas a mão, os dedos desatam a arder inesperadamente, recuas de medo.
Aqueles cabelos, as suas gotas de água são o começo, apenas o começo.
Antes do fim terás de pegar no fogo e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.
(Eugénio de Andrade)
O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sêde, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo o corpo que não espera; este pousar/que não conhece, nada vê, nem nada/ousa temer no seu temor agudo…
Tem tanta pressa o corpo! E já passou
quando um de nós ou quando o amor chegou.
(Jorge de Sena)
Digam que foi mentira, que não sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada fechada como boca onde não encontro nada:/não encontro respostas para tudo o que pergunto nem /na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum
(Ruy Belo)
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
(Sophia de Melo Breyner Andresen)
Quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. Quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda/neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
(Vasco Graça Moura)
Poemas ditos por Fernando Vaz Garcia